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Foto do escritorCarlos Miguel

Pensamento Estratégico, um pré-ver que não é um prever

Atualizado: 30 de out.


Perspectivar uma forma de jogar a la longue e em larga escala é uma arte que requer pré-ver o que pode vir a ser o crescimento de uma Equipa durante pelo menos uma época desportiva. A este pré-ver (em larga escala) atribui-se a designação de pensamento estratégico.

Pré-ver, não sendo prever, está por isso também intimamente relacionado com a imprevisibilidade, o requer, para além de Visão Estratégica, sensibilidade e abertura de espectro com que o treinador está na gestão "aqui e agora".


Ideia de Jogo do Treinador


Acredito que um Treinador para ter sucesso deva ter (fortes) convicções. Há uma Ideia que o treinador tem à partida para o jogo, um determinado tipo de futebol que lhe agrada, resultado possivelmente das experiências que teve, seja do que viu, jogou, treinou, inclusivamente possa ter inventado (Jorge Reis, 20018). Essa Ideia existe na sua cabeça (como um conceito) e nas vísceras (como um sentimento), é sua. Por ser sua, abandonar o essencial da sua Matriz seria como que deixar de ser ele próprio e passar a tornar-se um actor, uma marioneta.


Circunstâncias


Não obstante, com vista a ser eficaz e eficiente, penso que o Treinador deve ser também coerente ao olhar e caracterizar bem conjunto de circunstâncias (contextuais) com que se depara quando está num clube: as características dos jogadores, a Cultura do clube, o país, o campeonato, as equipas com quem vai jogar...


Sob pena do excesso de rigidez retirar ao Treinador clarividência e sagacidade, uma correcta caracterização das circunstâncias pode, por outro lado, levar o Treinador a vislumbrar nelas oportunidades que podem jogar a seu favor mesmo que o Estilo não vá, no imediato, totalmente ao encontro do que idealiza a priori.


E gradualmente ir direccionando o processo no sentido por ele desejado.


Ideia de Jogo Comum


Em função de uma conjugação entre a Ideia do Treinador e essas mesmas circunstâncias, é gerada aquilo que vai ser a forma como se vai jogar, uma Ideia que se pretende ir tornando-se Comum nos seus contornos Macro: "Surge da necessidade de sintonizar os jogadores com uma Intenção Prévia Comum, com uma linguagem comum, nos seus contornos macro" (Jorge Reis, 2018).

Essa Ideia contém em si uma Imagem/Intenção que deve estar presente como pano de fundo no processo, do início ao fim da época, para, dessa forma, aquilo que inicialmente é um conceito ir emergindo como algo concreto - um jogar.


Modelação


"Depois, na interacção com as circunstâncias da realidade, na reflexão e aferição constante que devem haver no processo, ela vai-se modelando num processo que requer extrema sensibilidade de quem gere o processo." (Jorge Reis, 2018).

Essa forma de jogar, pré-existe assim como um conceito, e da conceptualização à concretização há diferenças. Do processo de modelização resultam determinadas invariantes estruturais mais ou menos identificáveis, em função da gestão "aqui e agora", da sensibilidade e Liderança do Treinador, o qual, como um regulador do sistema, regula seu grau de abertura à imprevisibilidade.


Há um processo de constante aferição como um continuum ao longo da época, o qual, através da modelização, de uma constante correspondência dinâmica entre treino e jogo, vai aculturando, incorporando, somatizando, enfim, enraízando na Equipa e nos jogadores esse saber. O que tem mais que ver com a (Supra) dimensão Táctica, enquanto Cultura.


O importante é optar por um caminho


Os Grandes Princípios de como a Equipa vai jogar orientam o crescimento da sua Dinâmica desde o primeiro dia de época. A forma que assumem representa uma Ideia, um Estilo. O importante é que não perca a Forma, nos seus traços invariantes (uma vez tendo-se optado por um caminho), que seja algo orgânico (não mecânico), criando-se e recriando-se ao longo do caminho, crescendo naquilo que é o seu Padrão, em termos de consistência e variabilidade.


Estilos


Se vai ser uma Equipa de jogo mais apoiado e paciente e a gerir o ritmo do jogo com mais bola, uma Equipa de assumir um jogo mais objectivo, ou uma Equipa de explorar mais o contra-ataque, etc., isso são estilos que resultarão do casamento inteligente e sagaz entre a Ideia de Jogo do Treinador e as circunstâncias com que se depara (as características dos jogadores, nomeadamente) e não unicamente de um deles.

É preciso talento por parte do Treinador para, no âmbito do pensamento estratégico (a la longue) e na sua sensibilidade, gestão e Liderança no "aqui e agora", escolher a Ideia Certa e conduzir um processo com estas características: desenvolver uma forma de jogar onde os seus traços invariantes apareçam estabilizados, mas crescendo na sua consistência e variabilidade, como forma de expressar regularidades na sua Matriz e ao mesmo tempo fazer face ao caos e imprevisibilidade que o jogo tem.


Abertura ao Risco


Quer-se, no fundo, uma estabilização da forma de jogar - não se perder os seus traços invariantes - mas importa ressalvar que essa estabilização exige ganho e perda e não perspectivá-la como uma estabilização estanque.

A Dinâmica necessita de dinamismo significativo, possibilitado pela abertura ao imprevisível, do qual o Modelo também vive e se recria. Isso só é possível operando longe do equilíbrio e convivendo regularmente com dose de risco.

É daí que emergem novas formas de ordem mais robustas e consistentes, desde que essa abertura seja devidamente regulada pelo Treinador: até que ponto estamos a afastarmo-nos demasiado do caminho escolhido (estamos a ser flexíveis em vez de plásticos) ou, por outro lado, até que ponto estamos a ir por caminhos obrigatórios e limitadores (estamos a ser mecânicos e não orgânicos)?


O processo de Modelação, como Model-Acção, encerra sempre um futurismo, é algo que vai sendo sempre procurado mas não sabemos exactamente como ele se vai manifestar. Nem queremos.


I Liga


Pelo que tenho acompanhado da Liga diversos jogos têm trazido exemplos que personificam de certa forma algumas das problemáticas que tenho vindo a lançar neste e noutros artigos: futebol de iniciativa vs futebol de expectativa; abertura ao risco como factor de crescimento de uma Matriz de jogo; equilíbrio entre ordem e liberdade e sagacidade na exploração de uma forma de jogar, esta última objecto mais central neste artigo, entre outras e, nessa perspectiva, tem sido interessante para mim pensar sobre uma causalidade no desempenho e a qualidade de jogo.



Carlos Miguel


Referências:


Jorge Reis (2018). La Sustentabilidad del Morfociclo-patrón. La célula madre de la Periodización Táctica.











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